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Aldeia em Foco no ATL 2025: Saúde ocular como direito indígena

  • Foto do escritor: Agência Marandu
    Agência Marandu
  • 15 de abr.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 15 de abr.

Mais de 8 mil indígenas, de cerca de 200 etnias de todo o Brasil, ocuparam Brasília entre os dias 7 e 11 de abril para a 21ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL), a maior mobilização indígena do mundo.


Celebrando os 20 anos da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), o evento teve como tema central “APIB Somos Todos Nós: Em defesa da Constituição e da vida”, e reuniu lideranças, delegações internacionais e aliados de diversas frentes.



As pautas foram diversas e urgentes: a revogação da Lei do Marco Temporal (14.701/2023), o avanço das demarcações de terras, a crise climática, a identidade no registro civil e, com ênfase crescente, a saúde indígena.


Essa última ganhou destaque nas plenárias e rodas de conversa do ATL 2025, com denúncias sobre o subfinanciamento do SUS nos territórios, a falta de saneamento básico e a ausência de políticas preventivas que respeitem a especificidade dos povos originários.


É nesse contexto que o Projeto Aldeia em Foco marcou presença — levando não apenas uma estrutura completa de atendimento oftalmológico, mas também um posicionamento: enxergar é um direito que precisa ser garantido em todos os territórios.


Um espaço de cuidado dentro da luta


Durante os cinco dias do ATL, o Aldeia em Foco realizou 347 atendimentos oftalmológicos na grande tenda montada no espaço do evento. Os serviços incluíram:


  • Retinografia

  • Refração

  • Tonometria

  • Exame de fundo de olho com lâmpada de fenda

  • Doação de óculos ODG (prontos na hora)

  • Escolha de armações de acetato para entrega posterior

  • Encaminhamento médico para casos mais graves


A ação teve como objetivo oferecer cuidado visual acessível, gratuito e humanizado a indígenas de todas as regiões, atendendo adultos, jovens e idosos que aproveitaram o ATL não apenas para reivindicar direitos, mas também para acessar serviços muitas vezes negados em seus territórios.


Histórias que enxergamos de perto


Entre as centenas de atendimentos, conhecemos o cacique Eliseu e sua esposa, Eliane, da etnia Tupi, moradores da aldeia Mapuera, no município de Oriximiná (PA). O casal realizou os exames, recebeu óculos de leitura no local e escolheu armações de acetato que serão entregues em sua comunidade.

O cacique contou que sua principal função é organizar o povo para o trabalho com a terra. Os dois falaram com orgulho do filho que se forma este ano em odontologia, em Belém, e que retornará para cuidar da saúde bucal da aldeia.


Mais do que uma consulta, foi um reencontro com a autonomia: ver bem para viver com dignidade dentro do próprio território.


Saúde visual é parte da resistência


O reconhecimento da importância do projeto ficou evidente nas palavras de lideranças como Kleber Karipuna, coordenador executivo da APIB pela COIAB, em entrevista exclusiva a nossa equipe:


“Projetos como Aldeia em Foco são de suma importância[...] Esse é um atendimento que, dentro do próprio SUS, ainda é muito precário [...] imagine para os povos indígenas.”

Kleber também destaca que a saúde indígena vive um momento de restruturação do desmonte que aconteceu no governo anterior. E agora, em 2025, mesmo com o maior orçamento da história destinado a causa indígena, ainda não foi o suficiente para se recuperar. Com uma perspectiva melhor sobre o futuro, vão continuar cobrando o atual governo por mais direitos, especialmente na saúde visual.


"Um orçamento que salta para quase 2,8 bilhões de reais para a saúde indígena é significativo já como uma sinalização da importância da saúde indígena para dentro da política pública de saúde do atual governo.”
“Mas é óbvio que só um orçamento não é suficiente. E esse orçamento ainda não é, também, o suficiente. É o maior orçamento da história da saúde indígena dentro do governo, mas também é um orçamento que precisa se ampliar muito mais, precisa ser aplicado de uma maneira que a gente consiga visualizar ações


A fala reforça a urgência de soluções concretas e adaptadas às realidades dos territórios. Parcerias como a do Aldeia em Foco mostram que é possível construir modelos eficazes e sustentáveis — que vão, de fato, gerar resultados replicáveis.


Estar presente é ser reconhecido


A presença do Aldeia em Foco no ATL 2025 foi convidada e apoiada pela própria APIB, o que representa não apenas um aval institucional, mas também uma demonstração de confiança política e cultural.


Estar dentro do ATL — ao lado de quem luta, reivindica e constrói — reafirma o lugar do projeto como aliado legítimo das comunidades indígenas.


Como destacou uma das médicas voluntárias Glendha Santos:

“Foi uma experiência muito enriquecedora. É muito bom conhecer culturas diferentes, aprender com eles e poder servir, deixar um pouquinho do nosso trabalho e aumentar a qualidade de vida de todo mundo.”


O futuro da visão começa aqui


Ao terminar nossa participação no ATL 2025, saímos com dados, histórias e, acima de tudo, com a certeza de que fazer parte dessa mobilização nos conecta diretamente com o propósito do Aldeia em Foco: transformar vidas por meio do acesso ao cuidado visual.



 
 
 

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